07/09/2010
Criador de gir dupla aptidão investe na seleção para leite
Criador paulista investe em melhoramento genético para leite em gado gir com animais, considerados por ele, com muita caracterização racial.
Por Rosimar Silva
Cravinhos (SP) – José Luiz Junqueira Barros, conhecido
no meio girista como “Bi”, cria gir desde de 2001 na fazenda Café Velho
e, apesar da jovem na raça, já tem vários grandes campeonatos nacionais
de gir dupla aptidão.
Bi é hoje o principal criador de gir dupla aptidão do Brasil. Tem um
rebanho grande e fez grandes investimentos genéticos no resgate de
linhagens antigas da raça. Em 2009, na última Expozebu, ele foi
bi-grande campeão, conquistando os prêmios dos Grandes Campeonatos de
Machos e Fêmeas. Na categoria machos, conquistou a marca de bi-grande
campeão consecutivo com o touro Cristal do Bi (Escocês OD X Enxada ZS).
Em 2008 ele conquistou o bi-Grande Campeonato de fêmeas com a vaca Bagdá
do Bi (Faceiro da Esmeralda X Líbia JOR). Em 2009, a Grande Campeã foi
uma filha de Bagdá do Bi, Favorita do Bi, com o touro Cabaré Roodhari do
Bi (Roophano Dhari Importado X Kelly)
O criador paulista diz que sua estratégia foi de buscar o máximo do
padrão racial da raça, priorizando beleza e porte, “isso eu já consegui,
inclusive comprovado na principal pista do Brasil que é a Expozebu,
principal arena da raça gir no país”.
Depois de importantes conquistas na pista e na seleção de gir dupla
aptidão, ele diz que chegou a hora de buscar o melhoramento “para leite
com o tipo de animal que eu gosto e acredito, com raça, por isso eu
repito e defendo nos quatros cantos: quero gir com raça e leite, não me
interessa uma vaca somente leiteira, porém fora do padrão que eu gosto,
miúda, feia e distante da caracterização racial”, ressalta.
Apesar de polêmico, José Luiz entende a importância da seleção para
leite, “inclusive – ressalta – sou filiado a Abcgil – Associação
Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro e participo do teste de progênie
da Girgoiás, onde tenho um tourinho em teste, filho do Alecrim com uma
vaca Roophono Dhari, que tem lactação de 5.525 quilos de leite”.
Em 2008, na exposição de Uberlândia, José Luiz conquistou o torneio
leiteiro na categoria Vaca Jovem com Enguia do Bi, filha de Cabaré
Roodhari do Bi, na época uma surpresa para muitos que não acreditavam
que a Fazenda Café Velho fosse fazer qualquer investimento em seleção
leiteira.
Desde então, o criador está direcionando sua seleção para identificar em
seu plantel os animais com mais aptidão leiteira e para isso não teve
outro jeito senão incluir todas as vacas em lactação no controle
leiteiro oficial da ABCZ. São mais de 50 vacas ordenhadas todo dia. Para
isso, sua fazenda, evidentemente, vem sofrendo profundas modificações, a
primeira delas foi a construção de uma sala para ordenhadeira mecânica
com capacidade para ordenhar oito animais simultaneamente.
Segundo Bi, “foi necessário fazer isso para facilitar a ordenha, como
temos muitos animais em lactação, estava ficando difícil e cansativo
para os funcionários, com a ordenha mecanizada, produzimos um leite de
melhor qualidade e todos os animais gir estão adaptados à ordenha
mecânica”.
Outra ação do criador foi incorporar ao seu plantel animais gir leiteiro
de outros rebanhos, “mas – avisa – comprei e ainda estou comprando
animais origem de gir leiteiro com muita qualidade racial, não compro e
não entra na minha fazenda nada sem passar pelos meus rigorosos
critérios de seleção”.
Já é possível ver no curral da Fazenda Café Velho outras marcas como
Cal, Poções, Santo Humberto e outras. Além das compras, Bi também está
acasalando suas vacas com controle leiteiro com touros de linhagem de
Gir Leiteiro, como Radar dos Poções, Jaguar 3R e CA Donald, “que são
touros bem caracterizados e que produzem animais leiteiros e com
qualidade”, justifica.
Um dia na Café Velho
Passei o domingo, dia 14, inteiro na Fazenda Café Velho. Antes, dia 11
de março, embarquei cedo de Goiânia para Ribeirão Preto, às 09:00 horas
Bi já estava no Aeroporto de onde seguimos para Avaré (SP). Dia 13
retornamos para Cravinhos, dormimos na Fazenda Café Velho e passamos o
domingo,dia 14, inteiro vendo o rebanho gir da Fazenda. Nesse dia, por
volta das 11:00 horas da manhã, Bi recebeu também na fazenda as visitas
de Sílvio Queiroz, presidente da Abcgil – Associação Brasileira dos
Criadores de Gir Leiteiro e Fábio Miziara, jurado oficial da Abcz. Ambos
estavam voltando de Avaré rumo à Uberaba (MG).
Nessa visita, José Luiz fez questão de mostrar três progênies de touros.
A primeira, ainda bem nova, uma bezerrada de Radar dos Poções com
várias vacas “cabeceiras do meu plantel com controle leiteiro alto”;
outra progênie de um touro antigo, Krishna Sakina Sakina Sakina, um
touro cria de Celso Garcia Cid, cujo sêmen foi trazido do México cedido
pelo criador de gir Jaime Dario Mantecón. Por fim, a última progênie
mostrada foi do touro CA Donald, filho de CA Paladino na Amarina TE de
Kubera, cuja lactação oficial é de 4.665 quilos de leite.
Sobre os acasalamentos, Bi argumenta que fez uma fiv com o
sêmen do touro Krishna Sakina Sakina Sakina DC “com o objetivo de
resgatar essa linhagem da Sakina velha, uma vaca muito importante para a
formação do rebanho nacional trazida da Índia por Celso Garcia Cid,
pois esse touro tem grande concentração de sangue da vaca Sakina,
aparecendo 12 vezes no pedigree”.
Sakina
Mar porquê tanta Sakina e qual a importância dessa vaca para o rebanho
brasileiro? Existiram duas Sakinas: a indiana, mãe do Krishna Importado,
que ficou na Índia e a Sakina Importada, que é filha da Sakina Indiana
com o touro Redino. A Sakina que veio para o Brasil é irmã do touro
Krishna Importado. O Krishna na Sakina (irmãos maternos) resultou no
Krishna Sakina, ou Krishninha, também conhecido pelo seu numero de
registro, 6666. Vários touros Krishna descentem de Krishna Sakina, que
acasalado com outras vacas famosos e importadas resultaram em touros
famosos na época e até na hoje, como Krishna Sakina Prema DC , Krishna
Sakina Virbay DC , Krishna Sakina Guiliri DC e Krishna Sakina Kassudi
DC .
Depois de ver todas as progênies citadas e outros lotes de animais
jovens, Bi nos levou para o seu mostrador de gado, que fica ao lado dos
currais, coberto, com estrutura com banheiro, cadeiras e mesas, onde os
animais são mostrados individualmente em um picadeiro. Nesse local
cansamos de ver animais, grande maioria fêmeas de vários touros e
matrizes. Por volta das 15:00 horas fomos ver a ordenha mecânica e as
baias da bezerrada.
Na volta da ordenha ainda passamos em alguns currais onde tinha mais
novilhas para serem mostradas. Como a hora estava avançada, quase 16:00
horas, voltamos para a sede, onde nos foi servido um delicioso almoço, à
base de frango caipira ao molho, arroz branco, feijão, salada e quiabo
ao molho, produzidos (o frango e o quiabo) na própria fazenda. Uma
variedade de doces compôs a sobremesa.
Logo em seguida, Sílvio Queiroz e Fábio Miziara, ganharam a estrada para
Uberaba. Às 18:50 bi me levou ao aeroporto onde embarquei no avião da
Passaredo rumo a Goiânia.
Entusiasmo
Um dia só não é suficiente para ver todos os animais gir da Fazenda Café
Velho. José Luiz gosta de mostrar os animais individualmente e dizer o
pedigree do animal, quase sempre sem olhar nas planilhas, pois tem uma
memória invejável. Sabe a procedência do animal mais jovem até o touro
que está no pasto cobrindo as vacas. Ele mostra o animal, conta sua
história e diz se gosta ou não da rês. Todos os seus animais são
mostrados com entusiasmo, pois demonstra que gosta do que faz, acredita
nos acasalamentos e não poupa críticas nas linhagens que não gosta.
Leite
Sobre os investimentos na seleção leiteira, como os acasalamentos com
touros leiteiros e a estruturação da fazenda para produzir leite, como
ordenhadeira mecânica, ele diz que “são etapas que estamos cumprindo
para atingir um objetivo, produzir gir leiteiro com raça, tamanho e
muito leite”, finaliza.